Poesia para dizer amém

Poema aos 17

De Janeiro levarei a indecisão dos dias,
algo que procede até aqui em tamanha distante.
Embarcarei nos velhos sonhos verde-olivas,
no faixo amargo da decepção do dia-a-dia.

Em Fevereiro sonharei com as salas lotadas,
da batalha que recomeça tristonha.
Vou realocar as fronhas que cobriam a face suja,
e a vergonha da derrota pouco muda.

Do Março postergarão as conversas,
teu amor afável, tua discreta,
mania de fazer-me meteoro em tua vida.
Pena tanta pompa ter sido largada na esquina.

De Abril e Maio sobrarão os amigos,
uns vencidos e falidos,
outros evaporados na loucura da cidade.
Alguns tão exaltados que hoje numeram a lista das vaidades.

Dos dias de Outono e Inverno guarnecerei o frio,
teu molhado desejado, teu corpo todo meu.
A fase mais linda do amor duma vida,
tudo isso já se esqueceu...

Ao fim da Primavera ficará a inconstância,
o começo da queda, minha ignorância.
Tentarei ressaltar os términos,
aquele motivo que me faz enérgico.

Do Novembro febril e do Dezembro agonizante,
destes, prefiro não recordar, nem ao menos aqui.
Doravante, uma brecha hei de não tampar.
Lembrarei da força que encontrei em mim...

Mais um calendário obsoleto,
vejo crescendo o menino Pedro.
Fito morrendo o menino Marcus,
com a tolice da esperança dos fracos.
Outorgo minhas leis como quem se afronta,
declarei guerra a mim e refiz a demanda.
Maximizei a bondade,
trago aqui a saudade, da ilusão que desmonta...

Todos os ventos, flores e sortes,
as fotos, as mulheres, os beijos e holofotes,
a banda, o Jesus Cristo, as dores e a morte,
os devaneios, acertos e portes.
Encho meu baú que logo apagará,
os traços mais fracos,
a paisagem assobiará,
novos caminhos de certezas,
certamente cairão.
Esta é a velha vida,
dum novato aprendiz na arte tão sabida.
Que é, foi e será,
viver em paz...

Texto: Marcus Mavi