8.9.07

Histórias de Vovó-Parte I



O revólver

Saindo da fase poetica desse pequenino site, resolvi voltar a contar aqui minhas histórias malucas da minha familia maluca. Essa aqui tem uns três anos atrás, quando a michele ainda morava aqui em casa e nós pelejavamos pelo meu quarto... Santo Antônio Gil protetor dos irmãos menores...
Caso alguém não saiba, eu moro numa comunidade carente, cercada de pessoas carentes, carentes de um governo, de roupas maiores (meu deus, passa umas piriguetes vestidas de cinto e sutiã num frio de -18°C). Tal comunidade, o condominio residencial Colina do Passáro Negro, vulgo morro do Urubu, tem seus seguranças, defensores e administradores econômicos que fornecem matéria prima barata e rentável aos jovens da região. A segurança é reforçada por armas de calibre alto e pessoal treinado, uniformizados com seus bonés laranjas e roupas "cor-sim-cor-não" de cores alternativas.
Graças a preocupação doentia de minha progenitora de eu não me tornar um jovem soldado de alguma facção, honestamente defendida por ela, pois, segundo a tal, meu sangue já é meu ruim; eu nunca ingressei nas forças armadas da favela, e também não joguei bola, peteca, pique-pega. Devo minha infância aos inventores do Mega-drive e do Master System. Voltemos ao contexto histórico....
Na época do conto, o governo do CRCPN (Condominio Residencial Colina do Passáro Negro) estava em atrito com outros presidentes de comunidades e, após alguns anos de negociações e, digamos, acidentes diplomáticos, o exército do CRCPN, o EXPCRCPN (Exército Popular do Condominio Residencial Colina do Passáro Negro) começou uma corrida armamentista e mobilização das tropas da comunidade. Dois meses mais tarde, o condominio enfrentou uma invasão por parte de seus vizinhos e, em carniceiras batalhas, venceu a tal. Nessa época também aconteceu um grande conflito armado em meu feudo, a batalha das vassouras na qual muitas baratas se perderam em meio ao fogo cruzado. Agora, o 1°EXPCRCPN (Primeiro Exército Popular Colina do Passáro Negro) atacou um reino inimigo de agricultores, o reino do Engenho. Nessa campanha ocorreram as sete batalhas do vale da João Ribeiro, todas vencidas pelos ruralistas.
Uma época dificil para todos nós...
Neste ano sangrento, numa manhã de domingo, uma bela manhã, minha vó sobe a minha casa com seu saco de pão e jornal sensacionalista e entra de uma forma um tanto sútil. Vai a cozinha, deposita suas compras e volta a sala donde guarneciam minha mãe, minha irmã e eu, assistindo globo esporte e discutindo sobre meu namoro (coisas normais nesta prole). Minha vó toma um gole do copo de água e diz, numa voz baixa, como se algúem estivesse nos espiando.
-Maria (minha máe), tem um revólver no quintal.
Nessa hora, o jeito calmo e sensivel de minha progenitora impera...
-Porra mãe, tu tá maluca, que revólver? Essa velha hein...
Minha vo responde sobre gestos de "fala mais baixo".
-É maria, é sim,
e é dos grandes!
Eu, como nunca tinha razão com nada, mantive minha atenção na competição de salto ornamentais que passava no Globo Esporte.
-Vó, tu tá maluca, que revólver vó? -Disse minha irmã, versão mais nova e mais barulhenta da minha mãe.
-Deve ser de bandido, ah meu Jesus, minha virgem Maria nos proteja, minha santa terezinha do menino Jesus... -Minha mãe provavelmente, num ato de puro Espirito Santo, pelo dom da previsão, adicionou novos e futuros santos a nossa religião.
Terminada a ladainha, começaram as especulações sobre o futuro do revólver e seu dono. Digo com firmeza que, sugeriram ser de um bandido, do chefe do morro, do vizinho maconheiro, de algum policial até mesmo de
algum amigo meu....
O grande furor era que o tal dono retornasse a noite e fosse buscar seu artefato bélico, estando a meio caminho da nossa porta, poderia juntar a fome com a vontade de comer e usá-lo contra minha indefesa familia. Horas se passaram, eu me ofereci a ir buscá-lo (jovem revoltado adora armas), minha mãe achou melhor eu não fazer isso (tadinha, se ela soubesse que eu escrevo um livro de guerra), já que a composição quimica do meu sangue traz o hormônio TPMPVB (Teófilos Pai do Mavi Pode Virar Bandidus). Minha mãe que se auto intitula o comandante-em-chefe da casa, se ofereceu a ir porém, minha irmã, a tenente foi em seu lugar. O plano foi montado....
As três da tarde, note que a arma apareceu de manhãzinha, minha querida irmã partiu em movimentos militares até o quintal de baixo da minha casa, eu ia andando estilo soldadinho (excesso de Megadrive na pre-infância). Minha vó invocava desde os santos católicos até Tupã, Marte (deus romano), Afrodite (deusa grega), Maomé, Budá e todo tipo de entidade espirita. Só quem conhece sabe como é que é...
Momento de tensão, a jovem michele se aproxima do artefato, minhas vistas notam seu tamanho. Uma cutucada aqui outra acolá e, michele cai ao chão, a familia inteira corre para ver, desesperada de rir minha irmã grita várias vezes:"Olha o revólver!". Minha mãe e vó já praticamente ligavam para a policia quando a michele empunha a arma e parte ao seu encontro. Eu, ao ver o que era, também tombo como por atingido. Estupidamente ambas as senhoras da casa fugiam do "cano" da arma enquanto a tenente trazia-a. Na verdade aquele tipo de revólver podia até perfurar paredes, não, não era um .45 ou .762. Era uma carcaça de furadeira, sabe, aquela parte que agente brinca de arminha. Alguma alma penada a jogou em nosso quintal...
Talvez o dono da arma tenha vindo buscá-la e não a encontrara, talvez a policia o tenha detido por porte ilegal de furadeiras, talvez a minha vó precisasse de um óculos novo, talvez eu deva sair logo de casa.... Apenas mais um conto daqueles que se conta em festas de familia chatas, regadas a empadinha e agarramentos dos namorados na cozinha....
Moral da história:Vote sim no plesbicito contra o armamento....


Um comentário:

§ Fada das Delicias § disse...

§ Meu deus o que e issu??? §
§ que historia mais doida esta tua hen... §
§ definitivamente tua familia e malica cara... mais suas narrativas são as melhores ... §