Nossa, se existe tempo em que fico mais reflexivo que este que estamos, não enxerguei ainda.
Entendam, meu bimestre (Dezembro-Janeiro) tem as três maiores datas da minha vida, da nossa também claro. São os tradicionais Natal e Ano Novo acrescidos do meu aniversário.
Eu, por ser assim, sou um cara que busco algumas metas, me cobro muito e etc. Isso me faz montar um pequeno plano para cada ano eu tentar tocar a minha vida numa nota diferente, concluir trabalhos, começar academia, lutas, faculdades. Tudo isso torna a minha cabeça um imenso pote de gelatina (daquelas que ficam fora da geladeira uma hora).
Senhores, eu não conseguir cumprir UM ITEM da minha lista deste ano. Foi, sem sombra de dúvida, o mais dificil desde que me conheço por gente. Setecentos empregos diferentes, dificuldade financeira terrivel, brigas e conflitos no âmbito social. Jesus. Minha única reflexão é: Vai embora 2011. Ainda falando sobre a lista. Não a farei. Irei ao acaso, porque a casualidade é uma força inesgotável..... Amém
"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros."
26.12.11
14.11.11
Sobre os velhos modelos
Há alguns anos perco sono,
caçando meus sonhos, como um coelho que não posso encontrar.
Em alguns sonos perco meus anos,
vomitando minhas invejas, das estratégias que não consigo criar.
E combato,
neste padieiro armado,
pela vida que nunca pedi....
Nem paletós, nem enfeites,
me trazem o deleite,
de épocas em galgava tudo mudar.
Minhas gravatas são de velhos modelos,
muitos deles,
não aprendo e nunca aprenderei a usar.
Marcus Desidério
Aos dias de 2011
caçando meus sonhos, como um coelho que não posso encontrar.
Em alguns sonos perco meus anos,
vomitando minhas invejas, das estratégias que não consigo criar.
E combato,
neste padieiro armado,
pela vida que nunca pedi....
Nem paletós, nem enfeites,
me trazem o deleite,
de épocas em galgava tudo mudar.
Minhas gravatas são de velhos modelos,
muitos deles,
não aprendo e nunca aprenderei a usar.
Marcus Desidério
Aos dias de 2011
2.6.11
Novo Conto Parte 2
Capitulo Segundo
O cheiro da Guerra
Já amanhecia a segunda quarta-feira após o debate na câmara. O charco que se estendia pelas margens do Forte Kerbariano estava agora lotado de barracões, de música e de gente andando aqui e acolá. Os cavalos descansavam nos brigues improvisados. Algumas cabeças de gado estacionaram para a tropa servir-se. Colocavam se em reunião as forças dos coronéis amigos de Oxford e seus soldados pessoais. Nada foi dito a tropa a não ser a mentira dita aos deputados, estavam ali para ajudar na passagem de comando do forte.
A vista da fortaleza era privilegiada da coxilha em que estavam os soldados milicianos, se via de cabo á rabo as muralhas e as baterias dispostas em todas as direções. A guarnição se alertara da presença dos amigos e logo Oxford foi colocar seu grande pupilo a par dos planos de rebelião.
-O que me dizes é triste e verdadeiro meu amigo; cuidei deste lugar desde que acabaram as guerras no estrangeiro. Fiz dele minha vida, esses soldados são meus filhos. Conheço cada canto e ponta, cada peça de artilharia. O nome dos pastores e dos rebanhos que por aqui passam. Cada mascate, cada senhora que viaja. Meus homens abriram o caminho mais largo, as passagens subterrâneas, as trilhas escondidas. E agora, nosso Imperador que dar minha casa aos seus mercenários? Não, não é justo. Três mil fieis homens do Império depostos de seu trabalho e sustento. Querem fazer desse lugar um armazém de carnes e grãos para as aves de rapina que rodeiam nossas câmaras? –Major Adilson, era moreno e viera para Almovadar; quando criança foi adotado pela família dum anspeçada quando teve a morte de sua família na guerra. Desde então, morara em quarteis e lutava as guerras da colônia. Devia tudo ao Estado, mas sabia que o Estado devia muito a ele. Seu olho esquerdo vazado fora um preço caro demais por um Império que massacrara seu antigo lar.
-Vejo um futuro de rapinagem por essas terras amigos. Cada viajante pagando impostos na passagem, os pastores dando suas crias, os rebanhos obrigados a doar bezerros jovens, os camponeses se enfileirando ali à frente para trazer sua corveia. Eles se adiantam de seus navios de guerra para nos recolonizar. O status de vice-reino será uma piada. –Oxford.
-Não é isso que imaginávamos para esse lugar meu amigo. Não por esse futuro que vimos tantos e tantos amigos tombar. Estou com vocês. Eu e meus homens. O arsenal dentro dessas paredes é vasto. Como sabe temos quarenta peças de artilharia, além de vinte peças de campanha e quatro mil armas portáteis, pólvora para meses de guerra e que sustentaria um exército de dez mil homens. Imaginas a desgraça que seria esse tesouro cair nas mãos dos imperiais em tempos de guerra? –Adilson tomara novamente seu charuto, a barriga pomposa e os bigodes ralos, seus olhos flamejavam desejos de lutas antigas.
-Com este equipamento meu amigo, recrutaria todos meus amigos e irmãos de causa e marcharíamos juntos até Selladon para tomar a capital de assalto. Poderíamos derrotar qualquer expedição casterana ou imperial enviada para cá. –Oxford.
-Mas como vamos proceder meu mestre. Já ouvi dizer pelos peregrinos que os Imperiais está há dias daqui. E são três batalhões completos, de uniformes brancos. As tropas formadas pelo próprio Imperador, gente de muito treinamento. Homens servidos pelos países de lá ainda jovens. Porque vem para essas bandas do mundo? Os melhores homens dum Império? –Adilson.
-Ou já sentem o cheio da rebelião por dentre nós e nos temem, mas acredito que simplesmente são batalhões que não puderam ser desmobilizados ao fim da Guerra das três coroas. Enviam para nós os excedentes que não podiam pagar após o estrago da luta. –Oxford.
-Creio que sei o que vem acontecendo meu Brigadeiro. Nosso império está enfraquecido e sem dinheiro para compensar as perdas da Guerra entre seus melhores reinos. Dracon Eair está separada do Maxi-rei. E precisam de ouro e prata, além de grãos para vender para os aliados a fim de arrecadar fundos e colocar a maquina do Estado novamente em funcionamento. Enviaram seus mercenários para garantir que não nos sublevaríamos. Agora querem nos pilhar calmamente, arrancar a riqueza desta terra. –Adilson
-Mas este é o momento que a historia reservou para nós desfazermos logo esses laços de escravidão comprada. Uma nação independente e poderosa, dominamos o rio mais importante do mundo. Somos o centro do continente. –Oxford.
-Cuidado com as palavras meu amigo, podem levar tua carreira militar brilhante a deserção e traição. Mas, se não houve acordo entre as partes em Selladon, vamos atacar os Imperiais. Uma carga de cavalaria. De qualquer forma. Vou implodir este forte se tudo der errado. Por acaso os generais de além-mar sabem de nosso estoque de armamento senhor?
-Não sabem, esse material é pertencente à Câmara de Kerbara e quem cuida dos assuntos militares do lugar está sentado do seu lado nessa mesa agora amigo. Meus companheiros de debates acreditam que temos mil rifles e cinco canhões aqui. –Oxford.
-Pois bem, consegue para mim carroças o suficiente para transportar e esconder três mil fuzis e muita pólvora? –Adilson.
-Boa ideia Major. Vamos transportar e esconder o arsenal nas montanhas. Se não vencermos os Imperiais em combate, exploda o lugar. E nosso tesouro militar ficará em nossas mãos para a guerra. –Oxford.
A dupla se encarou por alguns momentos dentre as baforadas dos cigarros e charutos. A tensão da conversa não se refletia nas palavras mas, o conteúdo era separatista e isso, nos tempos antigos, era morte sob fuzilamento.
-Meus homens vão carregar as armas e as carroças, deixamo-las estocadas nas cavernas ao sul daqui, dentre os bosques que margeiam essas coxilhas. Por de trás da caverna, transpassa um rio de bom tamanho, chamado Moizela que cai diretamente no Rio Pardo. Navegamos o Rio Pardo até o Forte Pikon, nas mãos do Coronel Massura. Lá ajuntamos nossos aliados e partimos para a capital. –Oxford.
- O lugar fica no meio do caminho entre a Cidade de Kerbara e Soleil meu amigo. Talvez os Imperiais bloqueiem o Porto de Soleil rapidamente, por isso, antes de Selladon temos que tomar a capital da província. –Adilson.
-A capital é nossa amigo, quem protege a cidade é o 32° de guardas. Infantaria desmontada, sob comando do Coronel Ribeiro, tio de minha esposa. –Oxford.
-Pelo que sei, o Deputado-mor já chegou à capital com a carta da assembleia. –Adilson.
-O homem precisa da gente tanto quanto nós precisamos dele. Converso com ele há anos sobre a possibilidade de separação. Ele concordou comigo algumas vezes, caso a tirania do Império caísse sobre nós. Eis o momento. –Oxford.
-Quando ele ouvir que o Vice-rei não aceitará as propostas e o destituir do cargo, voltará para casa com o sangue nas ventas. Reunindo sua gente burguesa e juntando muitas moedas, suplicando para os estancieiros desse lugar partir para a luta. –Adilson.
-Presumimos assim meu amigo. Mas o jogo da rebelião é duro na batalha e na politica. –Oxford.
-Deixe-me então trabalhar. Contarei as novas aos meus oficiais e começaremos a retirar o material do arsenal. Traga para mim duzentos homens fortes e dispostos. Amanhã pela manhã iniciaremos os trabalhos. Estarei sempre contigo meu amigo. Pela pátria, pelo meu povo, meus amigos e meus irmãos de trincheira. Vá em paz. –Adilson.
Oxford se foi rapidamente, as mãos apertaram-se. Algo estava errado naquele homem. Aceitara a rebelião mui fácil. Coisa difícil dentre um oficial razoável e sem ligação com o povo do gado. Malcon conhecia seus amigos e inimigos. O primeiro passo a se dar no jogo das peças para seu plano teria de ser mudado. Na próxima manhã, Adilson veria os três mil homens de Oxford perfilados a frente da fortificação...
O cheiro da Guerra
Já amanhecia a segunda quarta-feira após o debate na câmara. O charco que se estendia pelas margens do Forte Kerbariano estava agora lotado de barracões, de música e de gente andando aqui e acolá. Os cavalos descansavam nos brigues improvisados. Algumas cabeças de gado estacionaram para a tropa servir-se. Colocavam se em reunião as forças dos coronéis amigos de Oxford e seus soldados pessoais. Nada foi dito a tropa a não ser a mentira dita aos deputados, estavam ali para ajudar na passagem de comando do forte.
A vista da fortaleza era privilegiada da coxilha em que estavam os soldados milicianos, se via de cabo á rabo as muralhas e as baterias dispostas em todas as direções. A guarnição se alertara da presença dos amigos e logo Oxford foi colocar seu grande pupilo a par dos planos de rebelião.
-O que me dizes é triste e verdadeiro meu amigo; cuidei deste lugar desde que acabaram as guerras no estrangeiro. Fiz dele minha vida, esses soldados são meus filhos. Conheço cada canto e ponta, cada peça de artilharia. O nome dos pastores e dos rebanhos que por aqui passam. Cada mascate, cada senhora que viaja. Meus homens abriram o caminho mais largo, as passagens subterrâneas, as trilhas escondidas. E agora, nosso Imperador que dar minha casa aos seus mercenários? Não, não é justo. Três mil fieis homens do Império depostos de seu trabalho e sustento. Querem fazer desse lugar um armazém de carnes e grãos para as aves de rapina que rodeiam nossas câmaras? –Major Adilson, era moreno e viera para Almovadar; quando criança foi adotado pela família dum anspeçada quando teve a morte de sua família na guerra. Desde então, morara em quarteis e lutava as guerras da colônia. Devia tudo ao Estado, mas sabia que o Estado devia muito a ele. Seu olho esquerdo vazado fora um preço caro demais por um Império que massacrara seu antigo lar.
-Vejo um futuro de rapinagem por essas terras amigos. Cada viajante pagando impostos na passagem, os pastores dando suas crias, os rebanhos obrigados a doar bezerros jovens, os camponeses se enfileirando ali à frente para trazer sua corveia. Eles se adiantam de seus navios de guerra para nos recolonizar. O status de vice-reino será uma piada. –Oxford.
-Não é isso que imaginávamos para esse lugar meu amigo. Não por esse futuro que vimos tantos e tantos amigos tombar. Estou com vocês. Eu e meus homens. O arsenal dentro dessas paredes é vasto. Como sabe temos quarenta peças de artilharia, além de vinte peças de campanha e quatro mil armas portáteis, pólvora para meses de guerra e que sustentaria um exército de dez mil homens. Imaginas a desgraça que seria esse tesouro cair nas mãos dos imperiais em tempos de guerra? –Adilson tomara novamente seu charuto, a barriga pomposa e os bigodes ralos, seus olhos flamejavam desejos de lutas antigas.
-Com este equipamento meu amigo, recrutaria todos meus amigos e irmãos de causa e marcharíamos juntos até Selladon para tomar a capital de assalto. Poderíamos derrotar qualquer expedição casterana ou imperial enviada para cá. –Oxford.
-Mas como vamos proceder meu mestre. Já ouvi dizer pelos peregrinos que os Imperiais está há dias daqui. E são três batalhões completos, de uniformes brancos. As tropas formadas pelo próprio Imperador, gente de muito treinamento. Homens servidos pelos países de lá ainda jovens. Porque vem para essas bandas do mundo? Os melhores homens dum Império? –Adilson.
-Ou já sentem o cheio da rebelião por dentre nós e nos temem, mas acredito que simplesmente são batalhões que não puderam ser desmobilizados ao fim da Guerra das três coroas. Enviam para nós os excedentes que não podiam pagar após o estrago da luta. –Oxford.
-Creio que sei o que vem acontecendo meu Brigadeiro. Nosso império está enfraquecido e sem dinheiro para compensar as perdas da Guerra entre seus melhores reinos. Dracon Eair está separada do Maxi-rei. E precisam de ouro e prata, além de grãos para vender para os aliados a fim de arrecadar fundos e colocar a maquina do Estado novamente em funcionamento. Enviaram seus mercenários para garantir que não nos sublevaríamos. Agora querem nos pilhar calmamente, arrancar a riqueza desta terra. –Adilson
-Mas este é o momento que a historia reservou para nós desfazermos logo esses laços de escravidão comprada. Uma nação independente e poderosa, dominamos o rio mais importante do mundo. Somos o centro do continente. –Oxford.
-Cuidado com as palavras meu amigo, podem levar tua carreira militar brilhante a deserção e traição. Mas, se não houve acordo entre as partes em Selladon, vamos atacar os Imperiais. Uma carga de cavalaria. De qualquer forma. Vou implodir este forte se tudo der errado. Por acaso os generais de além-mar sabem de nosso estoque de armamento senhor?
-Não sabem, esse material é pertencente à Câmara de Kerbara e quem cuida dos assuntos militares do lugar está sentado do seu lado nessa mesa agora amigo. Meus companheiros de debates acreditam que temos mil rifles e cinco canhões aqui. –Oxford.
-Pois bem, consegue para mim carroças o suficiente para transportar e esconder três mil fuzis e muita pólvora? –Adilson.
-Boa ideia Major. Vamos transportar e esconder o arsenal nas montanhas. Se não vencermos os Imperiais em combate, exploda o lugar. E nosso tesouro militar ficará em nossas mãos para a guerra. –Oxford.
A dupla se encarou por alguns momentos dentre as baforadas dos cigarros e charutos. A tensão da conversa não se refletia nas palavras mas, o conteúdo era separatista e isso, nos tempos antigos, era morte sob fuzilamento.
-Meus homens vão carregar as armas e as carroças, deixamo-las estocadas nas cavernas ao sul daqui, dentre os bosques que margeiam essas coxilhas. Por de trás da caverna, transpassa um rio de bom tamanho, chamado Moizela que cai diretamente no Rio Pardo. Navegamos o Rio Pardo até o Forte Pikon, nas mãos do Coronel Massura. Lá ajuntamos nossos aliados e partimos para a capital. –Oxford.
- O lugar fica no meio do caminho entre a Cidade de Kerbara e Soleil meu amigo. Talvez os Imperiais bloqueiem o Porto de Soleil rapidamente, por isso, antes de Selladon temos que tomar a capital da província. –Adilson.
-A capital é nossa amigo, quem protege a cidade é o 32° de guardas. Infantaria desmontada, sob comando do Coronel Ribeiro, tio de minha esposa. –Oxford.
-Pelo que sei, o Deputado-mor já chegou à capital com a carta da assembleia. –Adilson.
-O homem precisa da gente tanto quanto nós precisamos dele. Converso com ele há anos sobre a possibilidade de separação. Ele concordou comigo algumas vezes, caso a tirania do Império caísse sobre nós. Eis o momento. –Oxford.
-Quando ele ouvir que o Vice-rei não aceitará as propostas e o destituir do cargo, voltará para casa com o sangue nas ventas. Reunindo sua gente burguesa e juntando muitas moedas, suplicando para os estancieiros desse lugar partir para a luta. –Adilson.
-Presumimos assim meu amigo. Mas o jogo da rebelião é duro na batalha e na politica. –Oxford.
-Deixe-me então trabalhar. Contarei as novas aos meus oficiais e começaremos a retirar o material do arsenal. Traga para mim duzentos homens fortes e dispostos. Amanhã pela manhã iniciaremos os trabalhos. Estarei sempre contigo meu amigo. Pela pátria, pelo meu povo, meus amigos e meus irmãos de trincheira. Vá em paz. –Adilson.
Oxford se foi rapidamente, as mãos apertaram-se. Algo estava errado naquele homem. Aceitara a rebelião mui fácil. Coisa difícil dentre um oficial razoável e sem ligação com o povo do gado. Malcon conhecia seus amigos e inimigos. O primeiro passo a se dar no jogo das peças para seu plano teria de ser mudado. Na próxima manhã, Adilson veria os três mil homens de Oxford perfilados a frente da fortificação...
30.5.11
Novo Conto Parte 1
Conto sobre Almovadar
Capitulo Primeiro
O apagar das luzes
O domingo nascia corrente em Soleil, a cidade resplandecia a partir de suas amuradas de marfim que se fiavam em favor da larga praia a frente. A costa da urbe tomada das mais variadas naus, pequenas pesqueiras se afunilavam pelo estreito de passagem para a baia do Sol. As naves de guerra estavam ancoradas nas margens do poderoso Forte Contero, mais de vinte delas, de variados calados.
O bairro do morro era o primeiro de fronte a barra e o mais populoso, circulavam por ali os homens do trigo, do charque e do mar, carregando suas inúmeras sacas e caixotes nos lombos dos bois e cavalos, alguns montavam jumentos e despachavam cargas de algodão e tecidos diversos, outros vinham com as especiarias distantes descarregadas dos navios mercantes do Império que os regia. Uma troca injusta á vista dos lucros que os homens maiores tinham nesse negocio. Exatamente isso, por peças de carne salgadas e orégano, que se derramaria sangue humano por aquelas bandas.
O charque colonial sofria da taxa de ¼ de seu valor para adentrar nas casas dos imperiais, enquanto as carnes das nações estrangeiras nem sofriam imposto. Ao trigo se adicionava metade do valor e aos tecidos o dobro. Desta forma, em dez anos, a economia da colônia mais bem sucedida do Império ruía de fome. Enquanto as águas de Farador, a colônia que se rebelara anos antes, rugia de cargueiros de todas as partes do mundo.
As altas casas de Soleil, outrora brancas das tintas caras e fixadas sobre madeiras de leis caríssimas; de ruas tomadas de pedras preciosas, os mercados ricos em produtos do Império. Agonizava a miséria naquela terra, e os mendigos espalhados pelos cantos, às portas em pedaços, os moços devaneando nas praças. As grandes estâncias iam dissolvendo-se, a produção sofrera uma larga queda levando consigo o emprego de milhares de homens camponeses.
Para tentar acertar essa situação que, ali naquela cidade, reuniam-se os coronéis de Kerbara, a maior província da colônia. Senhores da guerra e do charque, os mais ricos de terra e dinheiro. Mas que agora beiravam a falência de sua fortuna pelos altos pagos que o Imperador lhes cobrava.
-Senhores; hoje recebi a carta Imperial com os novos ditames para esta terra. Nosso amado Imperador proclamou a dissolução da milícia provincial e que estes dez mil homens enviados para Almovadar serão divididos em três partes, vindo três mil tropas para estas bandas a qual tomarão o lugar de nossos soldados. Foi nos dada à ordem de dissolvemos três regimentos de cavalaria provinciana e com seus soldos, pagarmos os soldados do Império. Nossas armas devem ser entregues na fortaleza de Keremir, as margens do Rio Pardo. Deverão ser abandonadas as peças de artilharia, as munições de boca e arma, as fardas de inverno, os cavalos e os rifles de nossos soldados. Aos oficiais será dada uma recompensa de vinte réis e uma medalha de honra de bronze pelo serviço prestado. Foi nos outorgada a lei da demanda novamente, a qual cada estância deverá enviar 2% de sua produção as tropas do Imperador, com no mínimo duas sacas de trigo. As fazendas de charque enviarão esse peso em carne ou cabeças de gado, a cada seis meses.
Os impostos comerciais serão mantidos e as produções deverão passar pela inspeção da capitânia portuária, e somente para este porto se deve dirigir a produção de Kerbara.
Assim falou diretamente conosco, o Vice-rei Eldon em carta assinada e carimbada pelo Imperador.
Rapidamente o falatório tomara conta da câmara provinciana de Kerbara. Sentados à volta do pleito estavam os comerciantes, militares e fazendeiros mais influentes. Todos os deputados provinciais, todos indignados e feridos pela nova lei imposta. Até que, em meio aos berros, um homem dirigiu-se ao púlpito. Seu nome era dito em histórias que se contavam as crianças e aos moços, pela sua bravura, sua riqueza e suas artimanhas nas guerras contra os mouros e os morenos. Seu nome era Malcon Oxford. O único homem dentre aqueles que gozava da patente de Brigadeiro, o terceiro comandante mais graduado de toda a colônia. Atrás apenas de um General que comandava todo o Exército Provincial e do próprio vice-rei que gozava de ser chamado Marechal-de-campo.
Ainda forte e esguio aos cinquenta anos. Serviu desde garoto dentre as tropas Imperiais, era Faradoriano de nascença. Alcançara o prestigio militar através da inteligência e estratégia pouco encontradas para a época, além das graças de ter nascido de família influente. Os cabelos longos e cacheados debruçavam sobre um dorso de cavalo, os olhos negros e afundados, os dentes amarelados dos charutos e a barba feita. A farda alinhada e aberta, mostrando o camisão branco de linho. As botas cintilavam novas e engraxadas. Sabre á cinta, pistolas também. O tricórnio negro á mão em sinal de respeito. Malcom era dono duma gigantesca propriedade próxima à cidade a qual se plantava trigo e criava-se gado para venda, para carnes convencionais e para o charqueado. Rico, senhor de três filhos bem encaminhados e de mil homens de cavalaria, mui temidos pelos inimigos do reino. Seus negócios estendiam-se a uma fundição pomposa na cidade e ao controle duma pequena esquadra de barcos pequenos e veleiros que carregavam as mercadorias pelo Grande Rio até a capital e as ilhas próximas do continente. Sua vida politica fora sempre modesta, não tomando o posto de Deputado-mor quando oferecido, ficara como conselheiro da câmara, cargo a qual era dono há vinte anos.
A grossa voz passava uma educação refinada e aquele toque de comandante de campo:
-Meus patrícios. É em nome do Deus santo que venho vos falar. O que soa em vossos corações ao ouvir essas palavras? –Um brado de “vergonha” foi dado á direita do homem. –Irmãos meus, é unanimidade essa palavra dentre nós. Toda essa assembleia emprega milhares de homens do campo, enriquece-os, os dá dignidade, emprego para sustentar as crianças e famílias da gente que representamos. Do meio de vida que temos, dos nossos ditames, nossos costumes, nossa cultura de campo, de fartura, de festa desta terra tão bela em que escolhemos para viver. Seja por nossa vontade, como ao meu caso, ou pela vontade do Pai Criador. Nosso esforço imenso para defender às fronteiras, para combater as guerras externas do Império, que governa e nem paga nossos soldados. E com o que temos sido recompensados pelas vidas que perdemos e pela riqueza que amontoamos nas salas de prata e ouro dum Imperador confuso? Nosso salário é o ultraje de cartas como essas, de ditames outorgados à força e sem consenso, duma minoria que nos governa às léguas desta terra.
Agora nos vem mandar retirar nossos soldados da linha, três mil pais de família para que assumamos do nosso bolso, cada dia mais vazio, os caros soldos das tropas que para cá se dirigem. Que entreguemos os canhões e as espadas centenárias dos homens que morreram ao meu e ao vosso lado nas lutas contra os morenos; lutas que travamos sozinhos e sem apoio, pelo amor que temos a nossa terra pátria. Eu vos digo em nome do Pai Criador e do sangue dos bravos homens que se foram ao defender minha vida; soldado de um tirano seja qual for, que marcharem diante das portas de minha casa, serão recebidos com tiros. Eu os darei o soldo da morte pela honra daqueles que se foram. Pela honra dos trabalhadores que tenho em minhas terras, das pessoas destas e de todas as cidades de Kerbara. Esse não será o meu pagamento por trinta anos intermináveis de campos de batalha e ferimentos por um Imperador que assumiu há dez anos e nada se parece com seu bondoso pai.
Se a vossa vontade for o consentimento com tais ordens, assim o farão sem mim. Recolherei meus cavaleiros da cidade e viverei em minha fazenda, abandonando a farda e a vida politica. Pois não posso, como súdito deste Império aderir a tal artimanha fascista. Passarei a palavra.
Desta forma Malcon sentou novamente e todos os olharam profundamente. Um coronel tomou a dita cuja e partiu a defesa do Império, contrapondo o Brigadeiro e acusando de determinadas atitudes contra a lei serem consideradas traição.
A voz da assembleia o calou rapidamente. Outros quatro comandantes subiram ao palco e apoiaram Oxford, incluindo os conselheiros mais velhos. O deputado-mor calado ouvia tudo. Após duas horas de discussão intensa entre os partidários do Imperador e os estancieiros elevados, o homem tomou a palavra.
-Senhores. Como presidente desta assembleia, sou obrigado, transpassando minhas vontades pessoais de propor uma votação. Serão dois tratos com esta lei. Como fora uma ordem imposta, nossa constituição nos permite vetá-la temporariamente e adiantar o caso ao Vice-rei que é a maior autoridade desta jurisdição. Se assim o fizermos, encaminharei pessoalmente a carta de pedidos da gente de Kerbara para o dito. Se não vetarmos as ordens, três coronéis perderão sua patente e seus soldados. Como fixado na nova lei, os Imperiais devem chegar à fortaleza em quinze dias completos.
Façamos nossas escolhas em votos individuais. Como prescrito, somos hoje vinte e quatro comissários com direito de voto, mais do que necessário para sancionarmos algo. E assim será feito.
Para fins de compreensão, o deputado-mor era o prefeito de Soleil, o homem mais rico do lugar, senhor de vinhas, charqueados, trigais e negócios de toda sorte, contudo, sua patente no Exército Provincial era de Major, pois, não servira em várias guerras. Chamava-se Florêncio, era ruivo e beirava os quarenta anos. Sua atitude politica era extremamente burguesa, apoiando as ordens comerciantes e os senhores estancieiros no controle da força local, donde ficavam sob o controle da burguesia das cidades.
A grossa camada de homens do campo e seus ricos comandantes necessitava dos homens de serviços da cidade, dos donos dos estaleiros e docas. Era uma realidade a qual os dois setores eram interdependentes e quando a balança do imposto os fez empobrecer, a reciproca foi verdadeira.
A votação durara meia hora, e como de costume, as discussões prosseguiram até o entardecer quando Florêncio os trouxe o resultado. Vinte votos á favor da revogação e quatro contra. Os partidários do Imperador se exaltaram e assim foram embora da assembleia, dentre eles estava o único militar daquela gente. Coronel Juvêncio, senhor de cavalos e quinhentos infantes que comandava e recrutava pessoalmente entre as gentes sob sua tutela. Juvêncio era da idade de Oxford, e o servira em muitas lutas. Sua característica principal era a ranhura para o comércio. Em sua denodada mente, estava a certeza de que lucraria muito com os cortes dos estancieiros de grãos. Pois, sem a possibilidade de levar as riquezas a Selladon, a capital. Grande parte do serviço de embarcar as sacas e armazená-las ficaria dentre suas empresas que dominavam a região. Os outros três deputados eram: o grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros do Imperador, instituição civil de veteranos de guerra e pequenos comerciantes e seus seguidores. Anos mais tarde descobrira-se que tal Ordem fora comprada dos Castelhanos com ouro e prata todo ano para que atrapalhassem nas politicas de guerra dos Almovadarianos e os informassem. Então, logo se acorreu a noticia da sublevação que germinava dentre os Kerbarianos.
Quando foram os brados de traidores e vendidos, os que ficaram na casa se colocaram a redigir a carta de necessidades, tal qual, faço a vontade de vos transcrever os devotos mais atenuantes.
Foi solicitado que se baixassem os impostos e que os soldados do Império ficassem no Norte donde seriam necessários para proteger a fronteira dos Castelhanos e que as tropas permanecessem lá. Que os regimentos locais fossem mantidos pela necessidade de emprego e de controle da Câmara sob os tais. Se fosse possível, que o Império enviasse parte do soldo para os tais, além de novos canhões ou incentivos financeiros para que fossem produzidos ali. Foi dita a necessidade de edificar um novo baluarte defensivo as margens do Rio Secton na fronteira, pela movimentação de Exércitos Morenos na região. Foi anotada a indignação da Câmara em relação à Lei da Demanda, e que não seria praticada de forma alguma pelos já fragilizados fazendeiros de Kerbara. Relacionada também a opinião sobre os impostos iguais aos produtos do Império, já que os seus eram taxados abusivamente, e que tal dinheiro arrecado fosse usado para construir a Marinha Mercante da Colônia. Dessas e de outras estâncias que se fez a carta a qual o próprio Florêncio entregaria ao Vice-rei.
Doravante as assinaturas já estavam cumpridas, Oxford e mais três coronéis partiram juntos, dotados de escolta, donde fariam outra reunião, mais secreta e mui mais belicosa.
O tríduo de coronéis eram homens mais jovens e que serviram ao oficial comandante pelas lutas da vida, seus amigos confidentes de ideais, muitos não condiziam com os ares vassalos da câmara de que faziam parte.
Sentaram a mesa duma taberna famosa na cidade, de lugares reservados donde os políticos confabulavam suas artimanhas e estratagemas. O dono era amigo de Oxford, fora seu Sargento-ajudante na campanha de Efera em 1823. No lugar que assentaram os militares ficavam a parte de tudo e protegidos por grossas paredes. A peculiaridade daquela sala era o compasso pintado à parede. Símbolo duma Ordem Honorifica secreta, cujos membros eram quase todos senhores de muitos réis. Proibida pelo Imperador por adorar outros Deuses, a Ordem tomara a característica de reunir-se às escuras, e o próprio Imperador era seu Grão-mestre, mas não daquela loja. O senhor da Ordem dos Compassos de Kerbara era Oxford.
-Meus amigos. O dia de hoje é grandioso para nossa causa. Vejo no horizonte a hora da guerra de libertação de Almovadar. De nos libertamos do jugo de além-mar. O que podemos fazer para isso acontecer? –Malcon era separatista, assim como os coronéis que se ajuntavam na mesa e todos os membros da loja.
-Os imperiais querem o castelo não é meu amigo? –Coronel Erivan, comandante do 21° Regimento de Cavalaria provinciana e senhor do charque. Homem de bravura e estratégia comparáveis a seu mestre. Compartilhava a idade de Oxford, mas não seu porte atlético e mui menos a cabeça fria dos negócios, era viciado em jogos e páreas de cavalo. Mas era valoroso. –Vamos dar-lhe o castelo então. Mas da forma que achamos melhor, com nossos homens acampados na retaguarda dele, para o atacarmos assim que mudar de mãos.
-Concordo com Erivan, reunimos nossas tropas em sua estância, que fica á poucas léguas do lugarejo, a desculpa será que entregaremos nossos regimentos. Assim que o forte estiver cheio de casacas-azuis (soldados do Imperador) o bombardeamos e tomamos de assalto, rendendo-os. –O coronel Elton era mais jovem dez anos de seus companheiros, filho de homem rico, transpusera a tradição comerciante de sua família e com a herança abrira uma Estância de carnes suínas e bovinas para o mercado interno da colônia. Comandava o 12° de cavalaria, tropa da família, passada ao seu comando, formado em ciências militares pela Imperial Escola, era o melhor comandante de campo sobre a tutela de Oxford.
-Não traríamos para nós a fama de separatistas senhores? Os outros regimentos poderão até se contrapor a nós. –Vanillion era velho lobo da arte da guerra e impaciente de natureza, medroso também. Contudo, seguia Oxford como um Deus.
-Todos nós sabemos a resposta do Imperador senhores. Nem ligará para nossa carta. Vamos atacá-los. Ou melhor, ajuntemos as tropas e acampemos perto do forte. Isso os fará pensar. –Oxford.
Assim decidiram a atitude. Fariam a junção das forças em dez dias, na estância de Erivan.
-Se em nosso horizonte houver espadas e balas, quem decidirá isso é o Imperador...
Capitulo Primeiro
O apagar das luzes
O domingo nascia corrente em Soleil, a cidade resplandecia a partir de suas amuradas de marfim que se fiavam em favor da larga praia a frente. A costa da urbe tomada das mais variadas naus, pequenas pesqueiras se afunilavam pelo estreito de passagem para a baia do Sol. As naves de guerra estavam ancoradas nas margens do poderoso Forte Contero, mais de vinte delas, de variados calados.
O bairro do morro era o primeiro de fronte a barra e o mais populoso, circulavam por ali os homens do trigo, do charque e do mar, carregando suas inúmeras sacas e caixotes nos lombos dos bois e cavalos, alguns montavam jumentos e despachavam cargas de algodão e tecidos diversos, outros vinham com as especiarias distantes descarregadas dos navios mercantes do Império que os regia. Uma troca injusta á vista dos lucros que os homens maiores tinham nesse negocio. Exatamente isso, por peças de carne salgadas e orégano, que se derramaria sangue humano por aquelas bandas.
O charque colonial sofria da taxa de ¼ de seu valor para adentrar nas casas dos imperiais, enquanto as carnes das nações estrangeiras nem sofriam imposto. Ao trigo se adicionava metade do valor e aos tecidos o dobro. Desta forma, em dez anos, a economia da colônia mais bem sucedida do Império ruía de fome. Enquanto as águas de Farador, a colônia que se rebelara anos antes, rugia de cargueiros de todas as partes do mundo.
As altas casas de Soleil, outrora brancas das tintas caras e fixadas sobre madeiras de leis caríssimas; de ruas tomadas de pedras preciosas, os mercados ricos em produtos do Império. Agonizava a miséria naquela terra, e os mendigos espalhados pelos cantos, às portas em pedaços, os moços devaneando nas praças. As grandes estâncias iam dissolvendo-se, a produção sofrera uma larga queda levando consigo o emprego de milhares de homens camponeses.
Para tentar acertar essa situação que, ali naquela cidade, reuniam-se os coronéis de Kerbara, a maior província da colônia. Senhores da guerra e do charque, os mais ricos de terra e dinheiro. Mas que agora beiravam a falência de sua fortuna pelos altos pagos que o Imperador lhes cobrava.
-Senhores; hoje recebi a carta Imperial com os novos ditames para esta terra. Nosso amado Imperador proclamou a dissolução da milícia provincial e que estes dez mil homens enviados para Almovadar serão divididos em três partes, vindo três mil tropas para estas bandas a qual tomarão o lugar de nossos soldados. Foi nos dada à ordem de dissolvemos três regimentos de cavalaria provinciana e com seus soldos, pagarmos os soldados do Império. Nossas armas devem ser entregues na fortaleza de Keremir, as margens do Rio Pardo. Deverão ser abandonadas as peças de artilharia, as munições de boca e arma, as fardas de inverno, os cavalos e os rifles de nossos soldados. Aos oficiais será dada uma recompensa de vinte réis e uma medalha de honra de bronze pelo serviço prestado. Foi nos outorgada a lei da demanda novamente, a qual cada estância deverá enviar 2% de sua produção as tropas do Imperador, com no mínimo duas sacas de trigo. As fazendas de charque enviarão esse peso em carne ou cabeças de gado, a cada seis meses.
Os impostos comerciais serão mantidos e as produções deverão passar pela inspeção da capitânia portuária, e somente para este porto se deve dirigir a produção de Kerbara.
Assim falou diretamente conosco, o Vice-rei Eldon em carta assinada e carimbada pelo Imperador.
Rapidamente o falatório tomara conta da câmara provinciana de Kerbara. Sentados à volta do pleito estavam os comerciantes, militares e fazendeiros mais influentes. Todos os deputados provinciais, todos indignados e feridos pela nova lei imposta. Até que, em meio aos berros, um homem dirigiu-se ao púlpito. Seu nome era dito em histórias que se contavam as crianças e aos moços, pela sua bravura, sua riqueza e suas artimanhas nas guerras contra os mouros e os morenos. Seu nome era Malcon Oxford. O único homem dentre aqueles que gozava da patente de Brigadeiro, o terceiro comandante mais graduado de toda a colônia. Atrás apenas de um General que comandava todo o Exército Provincial e do próprio vice-rei que gozava de ser chamado Marechal-de-campo.
Ainda forte e esguio aos cinquenta anos. Serviu desde garoto dentre as tropas Imperiais, era Faradoriano de nascença. Alcançara o prestigio militar através da inteligência e estratégia pouco encontradas para a época, além das graças de ter nascido de família influente. Os cabelos longos e cacheados debruçavam sobre um dorso de cavalo, os olhos negros e afundados, os dentes amarelados dos charutos e a barba feita. A farda alinhada e aberta, mostrando o camisão branco de linho. As botas cintilavam novas e engraxadas. Sabre á cinta, pistolas também. O tricórnio negro á mão em sinal de respeito. Malcom era dono duma gigantesca propriedade próxima à cidade a qual se plantava trigo e criava-se gado para venda, para carnes convencionais e para o charqueado. Rico, senhor de três filhos bem encaminhados e de mil homens de cavalaria, mui temidos pelos inimigos do reino. Seus negócios estendiam-se a uma fundição pomposa na cidade e ao controle duma pequena esquadra de barcos pequenos e veleiros que carregavam as mercadorias pelo Grande Rio até a capital e as ilhas próximas do continente. Sua vida politica fora sempre modesta, não tomando o posto de Deputado-mor quando oferecido, ficara como conselheiro da câmara, cargo a qual era dono há vinte anos.
A grossa voz passava uma educação refinada e aquele toque de comandante de campo:
-Meus patrícios. É em nome do Deus santo que venho vos falar. O que soa em vossos corações ao ouvir essas palavras? –Um brado de “vergonha” foi dado á direita do homem. –Irmãos meus, é unanimidade essa palavra dentre nós. Toda essa assembleia emprega milhares de homens do campo, enriquece-os, os dá dignidade, emprego para sustentar as crianças e famílias da gente que representamos. Do meio de vida que temos, dos nossos ditames, nossos costumes, nossa cultura de campo, de fartura, de festa desta terra tão bela em que escolhemos para viver. Seja por nossa vontade, como ao meu caso, ou pela vontade do Pai Criador. Nosso esforço imenso para defender às fronteiras, para combater as guerras externas do Império, que governa e nem paga nossos soldados. E com o que temos sido recompensados pelas vidas que perdemos e pela riqueza que amontoamos nas salas de prata e ouro dum Imperador confuso? Nosso salário é o ultraje de cartas como essas, de ditames outorgados à força e sem consenso, duma minoria que nos governa às léguas desta terra.
Agora nos vem mandar retirar nossos soldados da linha, três mil pais de família para que assumamos do nosso bolso, cada dia mais vazio, os caros soldos das tropas que para cá se dirigem. Que entreguemos os canhões e as espadas centenárias dos homens que morreram ao meu e ao vosso lado nas lutas contra os morenos; lutas que travamos sozinhos e sem apoio, pelo amor que temos a nossa terra pátria. Eu vos digo em nome do Pai Criador e do sangue dos bravos homens que se foram ao defender minha vida; soldado de um tirano seja qual for, que marcharem diante das portas de minha casa, serão recebidos com tiros. Eu os darei o soldo da morte pela honra daqueles que se foram. Pela honra dos trabalhadores que tenho em minhas terras, das pessoas destas e de todas as cidades de Kerbara. Esse não será o meu pagamento por trinta anos intermináveis de campos de batalha e ferimentos por um Imperador que assumiu há dez anos e nada se parece com seu bondoso pai.
Se a vossa vontade for o consentimento com tais ordens, assim o farão sem mim. Recolherei meus cavaleiros da cidade e viverei em minha fazenda, abandonando a farda e a vida politica. Pois não posso, como súdito deste Império aderir a tal artimanha fascista. Passarei a palavra.
Desta forma Malcon sentou novamente e todos os olharam profundamente. Um coronel tomou a dita cuja e partiu a defesa do Império, contrapondo o Brigadeiro e acusando de determinadas atitudes contra a lei serem consideradas traição.
A voz da assembleia o calou rapidamente. Outros quatro comandantes subiram ao palco e apoiaram Oxford, incluindo os conselheiros mais velhos. O deputado-mor calado ouvia tudo. Após duas horas de discussão intensa entre os partidários do Imperador e os estancieiros elevados, o homem tomou a palavra.
-Senhores. Como presidente desta assembleia, sou obrigado, transpassando minhas vontades pessoais de propor uma votação. Serão dois tratos com esta lei. Como fora uma ordem imposta, nossa constituição nos permite vetá-la temporariamente e adiantar o caso ao Vice-rei que é a maior autoridade desta jurisdição. Se assim o fizermos, encaminharei pessoalmente a carta de pedidos da gente de Kerbara para o dito. Se não vetarmos as ordens, três coronéis perderão sua patente e seus soldados. Como fixado na nova lei, os Imperiais devem chegar à fortaleza em quinze dias completos.
Façamos nossas escolhas em votos individuais. Como prescrito, somos hoje vinte e quatro comissários com direito de voto, mais do que necessário para sancionarmos algo. E assim será feito.
Para fins de compreensão, o deputado-mor era o prefeito de Soleil, o homem mais rico do lugar, senhor de vinhas, charqueados, trigais e negócios de toda sorte, contudo, sua patente no Exército Provincial era de Major, pois, não servira em várias guerras. Chamava-se Florêncio, era ruivo e beirava os quarenta anos. Sua atitude politica era extremamente burguesa, apoiando as ordens comerciantes e os senhores estancieiros no controle da força local, donde ficavam sob o controle da burguesia das cidades.
A grossa camada de homens do campo e seus ricos comandantes necessitava dos homens de serviços da cidade, dos donos dos estaleiros e docas. Era uma realidade a qual os dois setores eram interdependentes e quando a balança do imposto os fez empobrecer, a reciproca foi verdadeira.
A votação durara meia hora, e como de costume, as discussões prosseguiram até o entardecer quando Florêncio os trouxe o resultado. Vinte votos á favor da revogação e quatro contra. Os partidários do Imperador se exaltaram e assim foram embora da assembleia, dentre eles estava o único militar daquela gente. Coronel Juvêncio, senhor de cavalos e quinhentos infantes que comandava e recrutava pessoalmente entre as gentes sob sua tutela. Juvêncio era da idade de Oxford, e o servira em muitas lutas. Sua característica principal era a ranhura para o comércio. Em sua denodada mente, estava a certeza de que lucraria muito com os cortes dos estancieiros de grãos. Pois, sem a possibilidade de levar as riquezas a Selladon, a capital. Grande parte do serviço de embarcar as sacas e armazená-las ficaria dentre suas empresas que dominavam a região. Os outros três deputados eram: o grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros do Imperador, instituição civil de veteranos de guerra e pequenos comerciantes e seus seguidores. Anos mais tarde descobrira-se que tal Ordem fora comprada dos Castelhanos com ouro e prata todo ano para que atrapalhassem nas politicas de guerra dos Almovadarianos e os informassem. Então, logo se acorreu a noticia da sublevação que germinava dentre os Kerbarianos.
Quando foram os brados de traidores e vendidos, os que ficaram na casa se colocaram a redigir a carta de necessidades, tal qual, faço a vontade de vos transcrever os devotos mais atenuantes.
Foi solicitado que se baixassem os impostos e que os soldados do Império ficassem no Norte donde seriam necessários para proteger a fronteira dos Castelhanos e que as tropas permanecessem lá. Que os regimentos locais fossem mantidos pela necessidade de emprego e de controle da Câmara sob os tais. Se fosse possível, que o Império enviasse parte do soldo para os tais, além de novos canhões ou incentivos financeiros para que fossem produzidos ali. Foi dita a necessidade de edificar um novo baluarte defensivo as margens do Rio Secton na fronteira, pela movimentação de Exércitos Morenos na região. Foi anotada a indignação da Câmara em relação à Lei da Demanda, e que não seria praticada de forma alguma pelos já fragilizados fazendeiros de Kerbara. Relacionada também a opinião sobre os impostos iguais aos produtos do Império, já que os seus eram taxados abusivamente, e que tal dinheiro arrecado fosse usado para construir a Marinha Mercante da Colônia. Dessas e de outras estâncias que se fez a carta a qual o próprio Florêncio entregaria ao Vice-rei.
Doravante as assinaturas já estavam cumpridas, Oxford e mais três coronéis partiram juntos, dotados de escolta, donde fariam outra reunião, mais secreta e mui mais belicosa.
O tríduo de coronéis eram homens mais jovens e que serviram ao oficial comandante pelas lutas da vida, seus amigos confidentes de ideais, muitos não condiziam com os ares vassalos da câmara de que faziam parte.
Sentaram a mesa duma taberna famosa na cidade, de lugares reservados donde os políticos confabulavam suas artimanhas e estratagemas. O dono era amigo de Oxford, fora seu Sargento-ajudante na campanha de Efera em 1823. No lugar que assentaram os militares ficavam a parte de tudo e protegidos por grossas paredes. A peculiaridade daquela sala era o compasso pintado à parede. Símbolo duma Ordem Honorifica secreta, cujos membros eram quase todos senhores de muitos réis. Proibida pelo Imperador por adorar outros Deuses, a Ordem tomara a característica de reunir-se às escuras, e o próprio Imperador era seu Grão-mestre, mas não daquela loja. O senhor da Ordem dos Compassos de Kerbara era Oxford.
-Meus amigos. O dia de hoje é grandioso para nossa causa. Vejo no horizonte a hora da guerra de libertação de Almovadar. De nos libertamos do jugo de além-mar. O que podemos fazer para isso acontecer? –Malcon era separatista, assim como os coronéis que se ajuntavam na mesa e todos os membros da loja.
-Os imperiais querem o castelo não é meu amigo? –Coronel Erivan, comandante do 21° Regimento de Cavalaria provinciana e senhor do charque. Homem de bravura e estratégia comparáveis a seu mestre. Compartilhava a idade de Oxford, mas não seu porte atlético e mui menos a cabeça fria dos negócios, era viciado em jogos e páreas de cavalo. Mas era valoroso. –Vamos dar-lhe o castelo então. Mas da forma que achamos melhor, com nossos homens acampados na retaguarda dele, para o atacarmos assim que mudar de mãos.
-Concordo com Erivan, reunimos nossas tropas em sua estância, que fica á poucas léguas do lugarejo, a desculpa será que entregaremos nossos regimentos. Assim que o forte estiver cheio de casacas-azuis (soldados do Imperador) o bombardeamos e tomamos de assalto, rendendo-os. –O coronel Elton era mais jovem dez anos de seus companheiros, filho de homem rico, transpusera a tradição comerciante de sua família e com a herança abrira uma Estância de carnes suínas e bovinas para o mercado interno da colônia. Comandava o 12° de cavalaria, tropa da família, passada ao seu comando, formado em ciências militares pela Imperial Escola, era o melhor comandante de campo sobre a tutela de Oxford.
-Não traríamos para nós a fama de separatistas senhores? Os outros regimentos poderão até se contrapor a nós. –Vanillion era velho lobo da arte da guerra e impaciente de natureza, medroso também. Contudo, seguia Oxford como um Deus.
-Todos nós sabemos a resposta do Imperador senhores. Nem ligará para nossa carta. Vamos atacá-los. Ou melhor, ajuntemos as tropas e acampemos perto do forte. Isso os fará pensar. –Oxford.
Assim decidiram a atitude. Fariam a junção das forças em dez dias, na estância de Erivan.
-Se em nosso horizonte houver espadas e balas, quem decidirá isso é o Imperador...
1.5.11
Sobre babaquice aguda
Eu nasci e cresci sobre pensamentos de tudo aquilo que li e admirei. Honestidade, lealdade, dedicação às pessoas a nossa volta. Toda essa sorte de coisas me fez o homem que sou; o homem frustrado que sou.
Convivo com um vazio emocional intenso desde épocas remotas. Vivi e lutei pequenas revoluções, fui rebelde, fui soldado do vento, descontando todo meu ódio em causas perdidas. Afinal de contas, para esse homem aqui senhores, o mundo esta perdido demais para se consertar.
Eu vivo intensamente as minhas paixões, minha carência me faz ter uma dedicação as pessoas que amo, aos meus fieis amigos, que são pouquíssimos. Eu ouvi coisas que os senhores nem podem entender, de gente que era para estar ao meu afago. Nunca fui um homem de sorte, nunca ganhei nada de mão beijada. As coisas boas que recebi, era jovem demais para entender e pago preços terríveis por isso até hoje.
Senhores, sou um homem comum com uma cruz imensa. Juro, por tantas vezes me comporto e disfarço bem, numa falsa felicidade. Mas eu amo a batalha. Venci uma boa briga hoje. Segunda recomeço minha vida profissional. Mas como é triste a sensação de estar sozinho.
Hoje eu vi postados sob uma mesa duas coisas de valioso que dei para quem amava, e só eu e Deus sabemos o que passei para aquilo estar ali. Mas estava ali assim jogado. Eu me senti jogado ali.
Por três quartos das vezes eu falo com calma, pacientemente, tentando fazer-me entender. Mas quantas vezes pedi para dar-se o mínimo de valor aquilo e nada. O ser humano moderno é centrista demais para entender os devaneios alheios. Estou revoltado com isso. Indignado com minha prepotência em achar que o amor pode trilhar laços de lealdade, amizade e valorização de outro. Senhores, o quanto eu sou babaca não caberia neste blog....
Convivo com um vazio emocional intenso desde épocas remotas. Vivi e lutei pequenas revoluções, fui rebelde, fui soldado do vento, descontando todo meu ódio em causas perdidas. Afinal de contas, para esse homem aqui senhores, o mundo esta perdido demais para se consertar.
Eu vivo intensamente as minhas paixões, minha carência me faz ter uma dedicação as pessoas que amo, aos meus fieis amigos, que são pouquíssimos. Eu ouvi coisas que os senhores nem podem entender, de gente que era para estar ao meu afago. Nunca fui um homem de sorte, nunca ganhei nada de mão beijada. As coisas boas que recebi, era jovem demais para entender e pago preços terríveis por isso até hoje.
Senhores, sou um homem comum com uma cruz imensa. Juro, por tantas vezes me comporto e disfarço bem, numa falsa felicidade. Mas eu amo a batalha. Venci uma boa briga hoje. Segunda recomeço minha vida profissional. Mas como é triste a sensação de estar sozinho.
Hoje eu vi postados sob uma mesa duas coisas de valioso que dei para quem amava, e só eu e Deus sabemos o que passei para aquilo estar ali. Mas estava ali assim jogado. Eu me senti jogado ali.
Por três quartos das vezes eu falo com calma, pacientemente, tentando fazer-me entender. Mas quantas vezes pedi para dar-se o mínimo de valor aquilo e nada. O ser humano moderno é centrista demais para entender os devaneios alheios. Estou revoltado com isso. Indignado com minha prepotência em achar que o amor pode trilhar laços de lealdade, amizade e valorização de outro. Senhores, o quanto eu sou babaca não caberia neste blog....
17.4.11
Sobre revolução
Eu sou um daqueles homens que tem seu mundo próprio, pensamento constante, mentalidade meio afetada por algumas coisas. Por muitas vezes sou um teatro convincente, até pra mim. Mas, determinados dogmas que existem em mim são poderosos demais para me acomodar naquilo que não quero. E sabe, sei muita coisa sobre o que não quero. Talvez até mais do que quero.
Talentos e talentos que tinha foram desperdiçados, grande parte da minha inteligência promissora. Tudo isso por cédulas e moedas, e como essa desgraça nos domina. E como essa merda é importante.
Bem, me demiti essa semana. Esse pensamento rodeava a minha cabeça, o desejo de ter tempo e força pra lutar a chegar ao meu sonho ou, pelo menos, colocar minha vida novamente no eixo profissional que tanto sonhei.
Entendam caros leitores, ter ideias amplas e conhecer de tudo é uma dádiva, a escola da vida é um milagre, mas, ao mesmo tempo, é uma maldição olhar a vida aos olhos dos tolos. Eu sou um grande tolo. No século XXI ser louco é acreditar nas coisas que rodeavam nossa cabeça quando éramos mais novos. Naquele cargo, aquele carro, aquele amor, aqueles amigos. A vida sim é bem longe de tudo que esperávamos. Mas entendi, e entendi muito bem, a vida é maravilhosa.
Por dois anos fui um homem frustrado emocionalmente, sem me sentir completo, ao colo de gente que é sim boa gente, mas se vendeu rápido demais. Cansei e procurei algo que me fizesse rir novamente. Esse substantivo abstrato logo se tornou um nome e um endereço e hoje me acolhe assim tão sem interesse. Isso me conquista.
Por anos fui desacordado com coisas que vi dentro de casa, mas, quem somos nós sem nossas famílias. Que honra e orgulho ser filho de alguém lutador. Demorei tempos pra ver, mas, assim vejo. E minha alma tem sido mui mais limpa com isso.
Minha ultima fragorosa batalha era meu emprego, meus estudos. O homem que tenho certeza que posso ser e que estava tão distante daquele meu cargo. Sabe, passei por situações complicadíssimas, humilhações que nunca vou esquecer e no fim, onde estava o dinheiro prometido e compensador? No bolso dos patrões. No bolso deles estava minha faculdade, minha saúde, meus planos e minha felicidade.
Alguns meses velando essa ideia, planejando a fuga, aconteceu. Demiti-me. E bum, o peso nas costas de uma carreira falida para cabeças falidas saiu de mim. E agora “outra vez, as coisas ficam fora do lugar, quando então começo a me sentir em casa.”
Digam-me aonde vocês se sentem em casa realmente?
Parei aqui no ponto zero, para recomeçar. Refazer erros que cometi com a cabeça cheia de pensamentos ruins e coisas vazias. Estou pronto. Mas não é um mar de rosas. Mas, seja o que Deus quiser...
Talentos e talentos que tinha foram desperdiçados, grande parte da minha inteligência promissora. Tudo isso por cédulas e moedas, e como essa desgraça nos domina. E como essa merda é importante.
Bem, me demiti essa semana. Esse pensamento rodeava a minha cabeça, o desejo de ter tempo e força pra lutar a chegar ao meu sonho ou, pelo menos, colocar minha vida novamente no eixo profissional que tanto sonhei.
Entendam caros leitores, ter ideias amplas e conhecer de tudo é uma dádiva, a escola da vida é um milagre, mas, ao mesmo tempo, é uma maldição olhar a vida aos olhos dos tolos. Eu sou um grande tolo. No século XXI ser louco é acreditar nas coisas que rodeavam nossa cabeça quando éramos mais novos. Naquele cargo, aquele carro, aquele amor, aqueles amigos. A vida sim é bem longe de tudo que esperávamos. Mas entendi, e entendi muito bem, a vida é maravilhosa.
Por dois anos fui um homem frustrado emocionalmente, sem me sentir completo, ao colo de gente que é sim boa gente, mas se vendeu rápido demais. Cansei e procurei algo que me fizesse rir novamente. Esse substantivo abstrato logo se tornou um nome e um endereço e hoje me acolhe assim tão sem interesse. Isso me conquista.
Por anos fui desacordado com coisas que vi dentro de casa, mas, quem somos nós sem nossas famílias. Que honra e orgulho ser filho de alguém lutador. Demorei tempos pra ver, mas, assim vejo. E minha alma tem sido mui mais limpa com isso.
Minha ultima fragorosa batalha era meu emprego, meus estudos. O homem que tenho certeza que posso ser e que estava tão distante daquele meu cargo. Sabe, passei por situações complicadíssimas, humilhações que nunca vou esquecer e no fim, onde estava o dinheiro prometido e compensador? No bolso dos patrões. No bolso deles estava minha faculdade, minha saúde, meus planos e minha felicidade.
Alguns meses velando essa ideia, planejando a fuga, aconteceu. Demiti-me. E bum, o peso nas costas de uma carreira falida para cabeças falidas saiu de mim. E agora “outra vez, as coisas ficam fora do lugar, quando então começo a me sentir em casa.”
Digam-me aonde vocês se sentem em casa realmente?
Parei aqui no ponto zero, para recomeçar. Refazer erros que cometi com a cabeça cheia de pensamentos ruins e coisas vazias. Estou pronto. Mas não é um mar de rosas. Mas, seja o que Deus quiser...
22.2.11
Sobre Rotina e indigestão
Só de falar nessa palavra eu tenho calafrios. Sim, um dos meus maiores temores é enfrentar a rotina do dia-a-dia da forma que eu enfrento hoje pelo resto da vida.
Tá ai uma das coisas mais assombrosas da minha alma, eu sou constantemente insatisfeito. Seja nas pequenas ou grandes circunstâncias.
Contudo, a vida que levamos nos molda dessa maneira...
Por exemplo, se hoje eu sair daqui e comprar um celular tablet em doze vezes sem juros no cartão, antes de terminar a compra, meu caro aparelho será brinquedo de criança no Japão e terceira linha no brasil. Se me arriscar no mundo da informática, minha HP em meses estará obsoleta. Meu tênis da Nike fora de linha. Minha camisa do Flamengo em um ano será antiga. Minha câmera digital de péssima resolução. Meu pen drive de pouca memória, meu Black Berry um Nextel fora de moda. Logo a banda larga vai entrar em promoção. Meu Mp5 um lixo por não ter Wireless. Minha guitarra um modelo ultrapassado.
O mundo moderno, assim como denoda seu adjetivo, se rende ao novo, e esse conceito do que é contemporânea afunila-se de anos para meses, semanas, dias, horas. Em duas horas, você vê dezenas de novas noticias, matérias, calamidades nos sites de informação. Menos de vinte e quatro horas sua morte boba será o rodapé da página 11 de um desses tabloides baratos que custam cinquenta centavos, antes de sua missa de sétimo dia, seu nome vai limpar vidro de uma vitrine.
Com toda essa informação, esse ritmo ditado, essa ordem excêntrica, quem se estaciona em um lugar calmo? Cada vez mais as responsabilidades são adiantadas. Há vinte anos um homem de minha idade nem pagava as contas de casa. As mulheres estavam se preparando para casar. O Brasil ainda estava mais longe de ser o país do futuro, e meu pai corria atrás de emprego como um louco. Ontem li que as agências de telemarketing, outro efeito da Era Moderna, estavam contratando sete mil pessoas somente no estado do rio.
Doravante esse enxame de feeds, de microblogs, de twitts, de posts; ultrapasso o mesmo sinal vermelho todo dia sentado em um ônibus lotado que vaga pela favela suja no subúrbio do rio. E encontro o mesmo mendigo que me pede cigarro por cigarro, meus maços de carlton que vão se esvaindo pelos dias, assim como minha saúde. E os calos trocam de lugar no meu pé, e as dores revezam entre os joelhos.
Sim, três anos de atendimento ao publico me fizeram entender o caos, o homem é repetitivo, constantemente adivinhável, passivo de não entender. Tudo é um script.
Todas as mulheres depois de um grande amor aventuram-se em seus “carinhas” e baladas. Todas as crianças choram por um afago. E os homens desanimados bebem as sextas e sábados rindo das historias antigas. E o futebol é feito de gols e só de gols, e os dribles são bem copiados.
O que, hoje em dia, me faz diferente, é que não sou suscetível á roteiros, odeio falar das mesmas intrigas. O que me irrita, é pedir as mesmas coisas a Deus nas horas do almoço. É lamentar os causos entre um café e outro. Olhar as arvores da Rua da Carioca dentre dois ou três cigarros.
Fico horas pendurado nos galhos da minha mente de quando irei fumar encostado em postes diferentes, e suplicar por novas conquistas...
Mas talvez, sim, seja isso, viver no mundo moderno.
Daqui a quinze minutos este post estará desatualizado na minha vida...
Tá ai uma das coisas mais assombrosas da minha alma, eu sou constantemente insatisfeito. Seja nas pequenas ou grandes circunstâncias.
Contudo, a vida que levamos nos molda dessa maneira...
Por exemplo, se hoje eu sair daqui e comprar um celular tablet em doze vezes sem juros no cartão, antes de terminar a compra, meu caro aparelho será brinquedo de criança no Japão e terceira linha no brasil. Se me arriscar no mundo da informática, minha HP em meses estará obsoleta. Meu tênis da Nike fora de linha. Minha camisa do Flamengo em um ano será antiga. Minha câmera digital de péssima resolução. Meu pen drive de pouca memória, meu Black Berry um Nextel fora de moda. Logo a banda larga vai entrar em promoção. Meu Mp5 um lixo por não ter Wireless. Minha guitarra um modelo ultrapassado.
O mundo moderno, assim como denoda seu adjetivo, se rende ao novo, e esse conceito do que é contemporânea afunila-se de anos para meses, semanas, dias, horas. Em duas horas, você vê dezenas de novas noticias, matérias, calamidades nos sites de informação. Menos de vinte e quatro horas sua morte boba será o rodapé da página 11 de um desses tabloides baratos que custam cinquenta centavos, antes de sua missa de sétimo dia, seu nome vai limpar vidro de uma vitrine.
Com toda essa informação, esse ritmo ditado, essa ordem excêntrica, quem se estaciona em um lugar calmo? Cada vez mais as responsabilidades são adiantadas. Há vinte anos um homem de minha idade nem pagava as contas de casa. As mulheres estavam se preparando para casar. O Brasil ainda estava mais longe de ser o país do futuro, e meu pai corria atrás de emprego como um louco. Ontem li que as agências de telemarketing, outro efeito da Era Moderna, estavam contratando sete mil pessoas somente no estado do rio.
Doravante esse enxame de feeds, de microblogs, de twitts, de posts; ultrapasso o mesmo sinal vermelho todo dia sentado em um ônibus lotado que vaga pela favela suja no subúrbio do rio. E encontro o mesmo mendigo que me pede cigarro por cigarro, meus maços de carlton que vão se esvaindo pelos dias, assim como minha saúde. E os calos trocam de lugar no meu pé, e as dores revezam entre os joelhos.
Sim, três anos de atendimento ao publico me fizeram entender o caos, o homem é repetitivo, constantemente adivinhável, passivo de não entender. Tudo é um script.
Todas as mulheres depois de um grande amor aventuram-se em seus “carinhas” e baladas. Todas as crianças choram por um afago. E os homens desanimados bebem as sextas e sábados rindo das historias antigas. E o futebol é feito de gols e só de gols, e os dribles são bem copiados.
O que, hoje em dia, me faz diferente, é que não sou suscetível á roteiros, odeio falar das mesmas intrigas. O que me irrita, é pedir as mesmas coisas a Deus nas horas do almoço. É lamentar os causos entre um café e outro. Olhar as arvores da Rua da Carioca dentre dois ou três cigarros.
Fico horas pendurado nos galhos da minha mente de quando irei fumar encostado em postes diferentes, e suplicar por novas conquistas...
Mas talvez, sim, seja isso, viver no mundo moderno.
Daqui a quinze minutos este post estará desatualizado na minha vida...
3.2.11
Sobre as pequenas batalhas
Deus existe. Sim, a quem não acredite e tudo mais, contudo, o criador prova demais a sua fidelidade a nós em nossas frágeis vidas.
Comigo, eu e Deus, temos um jogo. Aliás, ele joga comigo. Deus gosta de me colocar no fogo, para ver minhas reações, para me ensinar novas coisas, para me acordar de meus erros e meus acertos. Deus foca toda sua sabedoria em mim na base do aprendizado, seja pela forma boa ou ruim.
O cara lá de cima resolveu me revelar muitas coisas esses dias, ele me fez muito observador e me deu grandes substantivos para eu exercer o verbo.
O senhor me fez um cara muito rígido e até ríspido com as coisas, mas, ao mesmo tempo, quando me sinto bem e feliz, quando me sinto á vontade, sou um cara solto, bobo, piadista certeiro.
Mas meu defeito é acreditar na troca. Na troca de sinceridades, na troca de carinho, na troca de respeito. Na verdade, eu penso tanto nas pessoas ao meu redor que deixo de levantar meus planos. Tantos e tantos frustrados no tempo, perdidos na memoria, enclausurados pela intensa rotina.
Na verdade, eu preciso reaprender a amar, não que eu não ame com intensidade as coisas que tenho, mas preciso me apegar a tempere das coisas.
Eu sou extremamente avesso a tudo que é errado, a tudo que é jogo por dinheiro, talvez porque lido com isso todo dia e isso me consome. As pessoas conseguem se matar, se ferir, se odiar, se vender por essa moeda que é sim de suma importância.
Mas mesmo assim, sabendo da minha mente materialista, deus ainda não me deu asas.
Bem, nos últimos quinze dias, entendi que, todos os problemas da minha vida de hoje, fazem parte de grandes erros, gigantescos erros, imensas falhas de caráter e de vontade de quando eu tinha 15 anos. Há seis longos anos, minha vida passa longe daquilo que eu planejei. Isso porque fujo dos meus projetos por coisas que me desviam. Sempre existe algo pra me desviar do foco.
Eu fui de, um jovem altamente rico de cultura e sonhos bonitos, para esse adulto com cabelos já brancos, dolorido e estressado por uma rotina que em nada combina comigo. Apesar de ser materialista, eu não vendo meus pequenos conceitos por notas de cem reais.
Outro aprendizado foi de, que sou um homem extremamente difícil de relacionar com as pessoas. Aceito isso, preciso mudar isso. O porquê da minha usura; sou terrivelmente frágil diante daqueles que tenho afeto. Meus dois melhores amigos são donos indiscutíveis da minha confiança porque simplesmente não falharam em anos de amizade.
Eu ao mesmo tempo sou pastor e ovelha, preciso cuidar e ser cuidado, ser podado, ser compreendido, ser elogiado, ser lisonjeado. Infelizmente, os tempos em que isso era qualidade nas pessoas estão mortos.
Mas o mundo está aqui soberano, um mar de gente, enquanto eu gota, preciso aprender a me mover com a maré. Ser menos, quer dizer, ser mais egoísta.
Afinal de contas, eu sempre quero muito mais do que eu posso ter...
Comigo, eu e Deus, temos um jogo. Aliás, ele joga comigo. Deus gosta de me colocar no fogo, para ver minhas reações, para me ensinar novas coisas, para me acordar de meus erros e meus acertos. Deus foca toda sua sabedoria em mim na base do aprendizado, seja pela forma boa ou ruim.
O cara lá de cima resolveu me revelar muitas coisas esses dias, ele me fez muito observador e me deu grandes substantivos para eu exercer o verbo.
O senhor me fez um cara muito rígido e até ríspido com as coisas, mas, ao mesmo tempo, quando me sinto bem e feliz, quando me sinto á vontade, sou um cara solto, bobo, piadista certeiro.
Mas meu defeito é acreditar na troca. Na troca de sinceridades, na troca de carinho, na troca de respeito. Na verdade, eu penso tanto nas pessoas ao meu redor que deixo de levantar meus planos. Tantos e tantos frustrados no tempo, perdidos na memoria, enclausurados pela intensa rotina.
Na verdade, eu preciso reaprender a amar, não que eu não ame com intensidade as coisas que tenho, mas preciso me apegar a tempere das coisas.
Eu sou extremamente avesso a tudo que é errado, a tudo que é jogo por dinheiro, talvez porque lido com isso todo dia e isso me consome. As pessoas conseguem se matar, se ferir, se odiar, se vender por essa moeda que é sim de suma importância.
Mas mesmo assim, sabendo da minha mente materialista, deus ainda não me deu asas.
Bem, nos últimos quinze dias, entendi que, todos os problemas da minha vida de hoje, fazem parte de grandes erros, gigantescos erros, imensas falhas de caráter e de vontade de quando eu tinha 15 anos. Há seis longos anos, minha vida passa longe daquilo que eu planejei. Isso porque fujo dos meus projetos por coisas que me desviam. Sempre existe algo pra me desviar do foco.
Eu fui de, um jovem altamente rico de cultura e sonhos bonitos, para esse adulto com cabelos já brancos, dolorido e estressado por uma rotina que em nada combina comigo. Apesar de ser materialista, eu não vendo meus pequenos conceitos por notas de cem reais.
Outro aprendizado foi de, que sou um homem extremamente difícil de relacionar com as pessoas. Aceito isso, preciso mudar isso. O porquê da minha usura; sou terrivelmente frágil diante daqueles que tenho afeto. Meus dois melhores amigos são donos indiscutíveis da minha confiança porque simplesmente não falharam em anos de amizade.
Eu ao mesmo tempo sou pastor e ovelha, preciso cuidar e ser cuidado, ser podado, ser compreendido, ser elogiado, ser lisonjeado. Infelizmente, os tempos em que isso era qualidade nas pessoas estão mortos.
Mas o mundo está aqui soberano, um mar de gente, enquanto eu gota, preciso aprender a me mover com a maré. Ser menos, quer dizer, ser mais egoísta.
Afinal de contas, eu sempre quero muito mais do que eu posso ter...
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