14.3.10

Sobre como se portar em dias ruins

A vida exerce sobre nós a ligeira e extrema arte da ocasião, do acaso e dos meios pelo qual aquilo que os crentes num divino atendem como sua providencia. Desta avassaladora arte vêem nossas incertezas, dilemas, reflexões e encontros com um “Eu” tão poderoso e impotente como às formigas que se alojam por de trás da tomada da cozinha.
Precisamente eu estive de fronte com essa realidade hoje, e talvez amanhã também esteja, até que chegue algum outro motivo poético que me faça ter vontade de acordar ás seis e varrer meu rosto da barba que cresce; engraxar um par de sapatos caros e correr contra o tempo por toda santa manhã, pela tarde, no almoço e diante das noites mal dormidas.
A minha existência se deu dentre muitos momentos bons e ruins, alguns passei sozinho, outros passei rodeado de amigos ou em par com alguém. Mas, me respondam: O que sobra do passado neste futuro sombrio além de nós e nosso velho quarto marcado?
Contudo, creio que os investimentos e as visões são tão passageiros quanto à própria humanidade, os gostos e os devaneios de alguém fadado a viver a vida moderna.
Vejo-me como um pequeno astronauta, sem recursos, explorando algo bem perto para refazer uma casa destruída pelo vento cósmico. Ou não, eu perdi minha fé nas estrelas e num mundo exterior. Minhas crenças de proteção, e até minha força de vontade. De fato, estou abatido pelo golpe certeiro que o acaso me deu, fendendo minha rotina em várias partes.
Gestos, ligações, dias de Tv, tudo tão minúsculo e inocente quanto nós e que acarreta uma vicissitude de estar sempre ali no contar dos dias. Roda do tempo que desaba e rola por dentre nossas emoções e nos deixa a sós com nosso inimigo mais poderoso, o “EU”.
Contemplo a paisagem do meu bairro neste terraço triste e barato com meus melhores companheiros de viagem: Meu orgulho, meu Ego e minha falha e esquecida esperança.
Caçando com lasers e máquinas, aqui e ali, algo que esteja aquém do que eu tenho certeza que vai ser o amanhã.
De toda forma, aos vintes anos, existe um velho lobo cansado dentro de mim. Incapaz temporariamente de entender e compreender a vida, ou totalmente o contrario. Talvez minha visão esteja tão elevada que ultrapassou meus ideais e minhas mini-certezas.
Digamos que, em par, em grupos ou sozinho, sou incompleto...

Um comentário:

Bianca França disse...

Muito bom. Se todo lobo cansado, que tivesse como inimigo de si seu próprio "Eu" explorasse e expressasse tão bem suas angustias, aflições e tristezas do dia a dia dessa forma, o mundo sería uma alcatéia próxima da perfeição.