20.8.08

Poesia para o tempo

Todo santo dia,
toda maldita hora,
em ponto, as seis,
eu acordo, em prantos,
chorando, por dentro,
e o vento, na minha cabeça,
do mesmo Britânia barulhento.
Eu só penso em dormir, em viver além,
da parda realidade, massacrada pelas dividas,
pelos chefes, pelas estradas;
entupidas, de gente que nem eu....

Ai vem o sol, as dez, e a fome, violenta,
terrivel esfinge, faca a despedaçar.
E eu pragejo, sem sucesso, aquele banco,
aquela tela, o cheiro de papel,
o perfume da colega, a voz enlouquecida,
da cliente e suas dividas.
E eu só penso em sair dali, me demitir,
viver além, da monetária realidade,
do vai-e-vém, da cidade poluida...

Então, desaba, como um meteoro,
o pequeno ponteiro, do novo relógio,
meu coração bate, alegremente,
eu volto pra casa, ferverosamente,
pra encontrar minha velha,
deitada, entristecida, enraivecida,
atolada em suas primicias, que eu nunca,
nem se Jesus me contasse, entenderia.
Neste momento, eu penso em viajar,
conhecer Paris, algum hotel á beira-mar,
talvez Petrópolis caisse bem, fugir dali,
da habitual realidade de conviver,
com as mesmas pessoas desde o nascer...

Quando o sol desaparece, eu vagueio,
já abatido pelas batalhas, com o mundo entre os dedos,
segurando a linha que falta pra pegar o ônibus errado e desaparecer.
Eu sento na sala, que cheira a giz, verniz, e o professor,
falando e me dizendo, tudo que nunca vou usar e me arrependo,
de não ter ouvido antes.
Ai eu penso em partir, ruir, permanecer ali, até o dia amanhecer.
Viver longe desses diplomas, normas, comas, no qual sou obrigado a me induzir.

Quando chego em meu sossego, vem uma ou duas ligações,
da namorada e dos amigos. Nesta hora, tenho um profundo, absurdo,
medo de morrer e perder tudo isso que faz parte de mim,
mesmo eu não tendo escolhido...

Como pode um pedaço de ferro ser mais forte que a vida de alguém?
Essa sim, é a realidade que tento escapar...

Um comentário:

Anônimo disse...

Caracaa Mavii
muito profundo e bonito o que disse...algo a se pensar ;D