15.5.16

Sobre alcançar.


É de longe o maior sonho de todo jovem pobre da periferia, se emancipar, não obedecer às ordens, acordar diante de olhos negros. É um sonho sem fim, rodeios de amigos, as cervejas na mesa e o futebol indiscreto. Alcançar esse Estado de Poesia, essa vivência plena.

Eu alcancei e hoje, chorei por falta da minha mãe. Falta de falar tênue e firme, dos seus olhos facilmente vendáveis e de seu tempero quase que pronto. Chorei por minha cama de solteiro, meu armário semi-inteiro e os telefonas de desespero. Meu pranto veio pela minha vó dos cabelos de neve e a pele negra, mulher de uma firmeza sem fim. Chorei por não ouvir os cachorros latirem e não pegar duas horas de trânsito.  Nem consigo escrever isso sem essa incerteza profunda me tomar. Eu não sou feito de ferro e nem de pano. Sou um homem comum nessa solidão medrosa. Alguém que foi e que não sabe o que é voltar...


Um conselho eu te dou, daquele que se perdeu, gaste sua paz em fogo alto. Ela, em breve, vai desaparecer. Vai se tornar um medo sem fim, uma falta de sono e uma dor tão lancinante gerada pelo acaso. Vai se tornar mato queimado e não terá cigarro que há de curar. Esse é nosso destino, se vender por um sonho ameno que se torna pesadelo. Um tanto lutar que ninguém entende, você é um cartão de débito até a esquina cruzar. Ninguém há de te entender e de ser seu amigo, ninguém eu te digo, você está abandonado e sozinho. E isso vão chamar de esperança, um carro em 60x e a tenacidade em morrer o mais breve o possível... 

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